O envelhecimento tem assumido uma relevância social crescente nos últimos anos, que se traduz na definição de políticas públicas, em metas definidas pela comunidade europeia e nas linhas de investigação privilegiadas por vários organismos internacionais. O envelhecimento populacional, em particular o envelhecimento da população ativa, é talvez o maior desafio atual ao qual a sociedade terá que responder, com especial destaque para o envelhecimento acelerado da população portuguesa face a outros países europeus.
A Comunidade Europeia tem produzido diversas iniciativas neste domínio, como o Guia das Boas Práticas ao nível dos sistemas de pensões e sistemas de apoio social (Walker 1999); as Metas de Estocolmo que visam o aumento da taxa de emprego dos trabalhadores entre os 55 e os 64 anos em toda a europa; e o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo em 2012, as quais tiveram uma expressão muito concreta ao nível da redefinição de políticas sociais e legislativas (como por exemplo o adiamento da idade da reforma ou o desincentivo à pré-reforma).
No entanto, apesar da atenção crescente aos fenómenos e evoluções demográficas, o estudo das relações entre idade e trabalho tem permanecido num nível macro-social com pouco impacto no que realmente acontece no mercado de trabalho e dentro das organizações. Aliás, o 5th European Working Conditions Survey revela que a percentagem de representação dos trabalhadores com mais de 50 anos não ultrapassa os 25% em toda a Europa (Vendramin et al., 2012).
Por outro lado, a mera retenção dos trabalhadores mais velhos no mercado não constitui uma solução simples, já que o prolongamento das carreiras dos indivíduos requer um questionamento profundo e intervenção adequada ao nível das condições de trabalho e da exposição a determinados fatores de risco ao longo de todo o percurso profissional, a adaptação do trabalho ao estado de saúde dos indivíduos, a consideração das diferentes necessidades dos trabalhadores mais velhos (Truxillo et al., 2012), e um investimento na atualização de competências e no acesso à aprendizagem contínua (Vendramin et al., 2012).
As relações entre idade e trabalho assumem uma complexidade que ultrapassa a clássica abordagem epidemiológica fundada na associação entre a exposição a determinados fatores de risco e o envelhecimento mais ou menos precoce dos indivíduos. Aliás, não é possível estudar a relação entre idade e trabalho sem estudar a saúde e as condições de vida dos trabalhadores. A idade não se refere simplesmente a um marcador cronológico, um processo de transformação dos indivíduos, ou mesmo a uma forma de caraterizar a situação demográfica de uma população; a idade torna-se uma entrada privilegiada para aceder à dimensão temporal das histórias profissionais e para questionar as mudanças em curso e as evoluções nos sistemas de trabalho, a sua relevância, eficiência e o seu futuro (Molinié, Gaudart & Puyeo, 2012).
O principal objectivo deste projeto é desenvolver uma ferramenta de diagnóstico, monitorização e apoio à gestão da idade no trabalho. Este projeto apresenta um caráter duplamente inovador: científico e aplicado. Do ponto de vista científico constitui um ponto de partida para uma linha de investigação que se encontra perfilada com as preocupações mais recentes acerca da temática, articula dimensões que geralmente são estudadas separadamente (saúde, qualidade de vida, doenças profissionais, características do trabalho, idade) e ultrapassa as visões parcelares e disciplinares que têm dominado a literatura (epidemiologia, psicologia, sociologia, ergonomia, demografia). Por outro lado, é igualmente inovador no seu potencial de aplicação, uma vez que será o primeiro inquérito realizado ao nível nacional sobre as condições de trabalho, saúde e envelhecimento efectuado em Portugal, com a colaboração com a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). Trata-se de um trabalho precursor na área, que pretende monitorizar ao longo do tempo (através de recolhas longitudinais) a população ativa portuguesa e que capacitará este organismo público para responder de forma adequada aos desafios demográficos atuais e às solicitações das instituições europeias a quem reporta, em matéria de saúde e envelhecimento no trabalho.